Reprogramando o cérebro para comer melhor

Acostumamos a comer junk food ao longo da vida. Mas com ciência e bom senso é possível “enganar” o cérebro e reprogramar a razão para fazer escolhas mais saudáveis à mesa.

Leia mais:

Rotina exemplar – Como é o dia das mentes mais brilhantes
Meu pulo do gato – Perdi 60 quilos ao reinventar meu cotidiano

Nossa relação com os alimentos foi determinante para a sobrevivência da espécie humana.

Seja ao dominar o fogo ou talhar ferramentas para a caça, à medida em que evoluímos, começamos a usar as ferramentas que foram associadas com o preparo da comida.

Foi o consumo de alimentos cozidos que fez o cérebro de nossa espécie triplicar de tamanho.

Neste ponto, até a mastigação nos influenciou, fazendo a mandíbula dos primeiros hominídeos encolher, já que não era mais necessário rasgar nos dentes a cartilagem dos animais abatidos.

Compartilhar os alimentos também nos tornou uma espécie gregária, de onde formamos as famílias, as tribos e as cidades.

Por tudo isso, mudar o que comemos, resultado de hábitos adquiridos e passados em milhares de anos, é uma tarefa complicada.

Alterar nossa relação com a comida obriga a reprogramar os nossos padrões mais fundamentais de comportamento.

É possível, mas não é fácil e é por isso que tantas resoluções de encarar dietas estão destinados ao fracasso em mais de 90% dos casos.

Julgamos entender o ato de comer como um processo funcional que se passa da percepção do sabor a deglutição, da digestão à nutrição.

Mas é mais do que isso.

Os hábitos alimentares influenciam não só a saúde física, mas também nosso estado mental, a nossa inteligência, nosso caráter e personalidade.

Tudo começa antes do nascimento.

Os sabores dos alimentos que a mãe come, por exemplo, encontram o caminho para o feto através do líquido amniótico, e após o parto tornam-se inconscientemente seus paladares preferidos.

E os alimentos a que somos expostos durante os dois primeiros anos de vida determinam o que vamos querer comer na idade adulta.

Então, o que podemos fazer?

Enquanto pais, tanto antes como depois do nascimento de nossos filhos, podemos expô-los a tantos e variados alimentos quanto possível.

Não devemos bloquear seu acesso aos doces, mas os seres humanos não foram projetados para comer muito açúcar.

Do mesmo modo, algumas gorduras são boas, contanto que não sejam excessivas.

E, acima de tudo, precisamos de proteína.

Mas para aqueles programados para favorecer muito açúcar ou sal, é necessária uma abordagem mais inteligente que vise mudar esses hábitos.

Diante dos instintos, que bloqueiam o entendimento de informações racionais, é preciso agir com inteligência.

Imagine fazer uma xícara de café com apenas um grão de café; o resultado seria muito insípido.

Mas considere beber uma xícara de água quente e depois comer um grão de café.

Você pode fazer o mesmo com os alimentos, exercitar a liberação de certos sabores para maximizar seu impacto no paladar.

Existem, de fato, muitos pontos de contatos sensoriais que afetam o modo como nós percebemos os sabores.

Por estranho que possa parecer, ludibriar qualquer dos nossos sentidos pode aumentar drasticamente o impacto no paladar.

O peso do copo em que você bebe algo pode mudar o sabor que contém, bem como o peso dos talheres pode alterar o gosto da comida.

A forma e as cores dos pratos e até a presença de um espelho em frente à mesa também alteram a percepção do sabor.

Portanto, ao invés de penalizar o bolso com sobretaxas aplicadas a produtos alimentícios, uma das maneiras mais eficientes de mudar os nossos hábitos alimentares é enganar o cérebro.

Embora envolva o órgão da razão, esta não é uma abordagem racional para o problema, senão, de fato, emocional.

Precisamente porque comer é um ato instintivo e não uma atividade racional.

Deixar de lado o racional é um verdadeiro desafio para os formuladores de políticas públicas de saúde.

Mas se eles querem que a sociedade se torne menos obesa, devem perceber que as leis são muitas vezes a pior maneira de mudar o comportamento humano.

Tags: , , , , , ,