Fora de série

Episódios de várias partes do mundo são contraponto a muros e barreiras. Leia meu artigo publicado na revista Veja. 

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Estou aproveitando estes meses de distanciamento social para viajar pelo mundo.

Revisitei algumas cidades, como Paris e Nápoles.

Conheci cenários que não constam em nenhum guia turístico, como a Faixa de Gaza. Entrei de novo no Vaticano.

Viajei no tempo também.

Fui até o final do século XIX, dei uma voltinha até 1920, parei um pouco nos anos 1950.

Tudo isso, é claro, sem sair da poltrona.

Tais passeios em época de reclusão são cortesia das séries de TV produzidas longe da indústria cinematográfica norte-americana.

A popularização mundial dessas produções é um fenômeno cultural, um contraponto ao mundo de fronteiras cada vez mais fechadas, com estrangeiros barrados em aeroportos, aviões no chão, muros infames e barreiras protecionistas levantadas por toda parte.

Apesar disso tudo, a cultura viaja via streaming.

Com essas séries, temos a oportunidade de conhecer a vida, a cultura e os valores de povos que pouco víamos retratados nas telas.

E o que é melhor: por eles mesmos, de maneira menos estereotipada.

Um dos palpites mais úteis atualmente é sobre seu potencial de entretenimento.

A oferta é grande e as referências, muitas vezes, nos escapam, com atores e diretores distantes dos telões.

Acertar uma série é garantia de bom passatempo por noites a fio.

Nem sempre isso acontece.

Quando a história não decola é menos ruim, porque abortamos o projeto televisivo logo de cara.

O pior é quando, depois de um começo promissor, a história não engata.

Aí ficamos dando seguidas chances à ficção, à espera de uma retomada do ímpeto inicial – com frequência perdemos tempo e nos decepcionamos.

As melhores dicas vêm de amigos, que sabem de nossas preferências.

Até porque, conhecendo os amigos, damos os descontos que acharmos necessários.

A primeira atitude para desfrutar dos episódios é abrir-se ao novo.

Para ouvidos habituados ao inglês, a nova safra soará como uma moderna Torre de Babel.

As séries são faladas em alemão, francês, árabe, hebraico, turco, norueguês, italiano e um de seus dialetos, o napolitano.

Da Alemanha vêm duas ótimas opções.

“Babylon Berlin” conta a história da agitada vida intelectual e artística dos anos 1920, em meio às ameaças da ascensão do nazismo.

“Dark”, cuja trama transcorre numa cidade fictícia, proporciona um tour por várias locações próximas à capital do país, com destaques arquitetônicos, como a igreja Südweskirchholf Stahnsdorf, que tem traços nórdicos e de art nouveau.

Outras duas são italianas.

“The New Pope” visita os corredores de um Vaticano místico e reconstruído.

Chamam a atenção as roupas do papa Pio XIII, com peças desenhadas por Giorgio Armani e sapatos Christian Louboutin.

Em “Brilliant Friends” somos convidados a entrar no mundo da escritora Elena Ferrante, que faz suas personagens circularem por bairros de Nápoles.

A série israelense “Fauda” (caos, em árabe) nos leva a Hebron, a maior cidade da Cisjordânia, e à Faixa de Gaza (embora as cenas na região tenham sido filmadas em cidades árabes-israelenses, é possível imaginarmos a realidade local).

E a canadense “Anne com E” apresenta lugares que poucos pensariam em visitar, como a Ilha do Príncipe Eduardo, com suas praias de areia vermelha.

Há muito mais no streaming: “Peaky Blinders” (britânica), “A Louva-a-Deus” (francesa), “La Casa de Papel” (espanhola) e o filme turco “Milagre na Cela 7”.

Pode escolher: é entretenimento fora de série.

Originalmente publicado na revista Veja.

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