Comida azul

Para Davos, há no mar um futuro para a alimentação. Leia minha última coluna publicada na revista Veja.

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Estive no Fórum Mundial de Davos acompanhando meu marido, e me detive num tema: blue food para um futuro sustentável.

Sim, logo associamos a cor a blueberries e antioxidantes.

Mas hoje comida azul diz respeito aos alimentos oriundos de mares, rios e lagos.

Peixes, sim, mas não apenas.

Há ainda os crustáceos, as plantas, as algas.

Em plena Suíça, meu pensamento me levou para uma viagem que fiz a Mônaco, onde notei que servir salmão nos restaurantes era restrito.

Longe de um porto seguro em cardápios internacionais, quis saber o motivo.

O maître me informou ser por ordem do príncipe Albert, em apoio a uma campanha contra a pesca predatória.

A partir daí o assunto me intrigou.

Até então, frutos do mar eram, como sugere a expressão, alimentos prontos para serem colhidos e consumidos esporadicamente, com parcimônia.

Mas ter a consciência de que peixes, crustáceos, moluscos e algas podem ser um caminho para alimentar o mundo, isso muda tudo.

Mesmo estando cercados por oceanos, pouco sabemos do que acontece na água.

Tanto que a maior parte da alimentação, em quase todas as culturas, é baseada em alimentos terrestres.

A força do agronegócio em nossa economia é evidente.

Porém, problemas de abastecimento provocados pela guerra entre os maiores produtores de grãos do planeta são questões prementes.

O fato é que a terra não tem elasticidade.

Precisamos resolver a equação que se apresenta na disputa entre os biomas nativos.

O problema é potencializado pela população que não para de crescer.

No evento na Suíça, o diretor do Centro para Soluções dos Oceanos da Universidade de Stanford, Jim Leape, apontou para uma solução, ao sugerir a integração da comida azul no sistema alimentar global.

Muita gente come peixe regularmente, claro.

Segundo Jim, bilhões de pessoas contam com essa fonte de proteína.

Entretanto, o que ele aponta é como sua participação na mesa em todo o planeta pode ser mais relevante.

E isso deve mudar a maneira como vemos toda essa categoria.

Há pontos positivos na blue food.

O primeiro é a diversidade.

Se em terra temos poucas espécies com que contar, nos ambientes marinhos estão 2.500 espécies.

O segundo é sua natureza incrivelmente nutritiva.

A comida azul oferece alta densidade de macronutrientes saudáveis.

Há ainda o aspecto social.

Ainda que se considerem a pesca extensiva e aquacultura, mais de 90% do mercado é abastecido por inúmeros pequenos produtores e comunidades, que podem oferecer empregos onde são mais necessários.

Identificar a importância da comida azul é o primeiro passo para viabilizá-la em escala.

Para tanto, temos que evitar a contaminação dos mares e garantir a sustentação do ecossistema.

Está provado que ampliando as áreas de proteção marinha, teremos mais peixes à disposição.

Parece contraditório, mas é apenas lógico: protegidos, os peixes se reproduzem mais e aumentam a oferta a médio prazo, o que seria uma versão atualizada do milagre da multiplicação dos peixes.

Em se tratando de blue foods, o azul é verde.

Publicado originalmente na revista Veja.

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