Alucinações cotidianas

Você acha que viu um elefante cor-de-rosa? Provavelmente viu, sim. Pesquisa revela como pessoas saudáveis têm alucinações. E não se preocupe: isso é perfeitamente normal. 

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Numa manhã bem cedo, o psiquiatra e professor da Universidade de Queensland (Austrália) John McGrath havia desligado a água e saía do chuveiro quando ouviu seu filho lhe chamar.

Ele colocou a cabeça para fora do banheiro e chamou pela criança, que não respondeu.

Logo, ficou em pânico, mas em seguida controlou-se, ao lembrar que seu filho não estava em casa.

O que John vivenciou foi uma alucinação, definida como ver ou ouvir coisas que na realidade não existem.

Historicamente, alucinações e delírios são vistos como sintomas de psicoses ou outros distúrbios mentais.

Motivado pelo que lhe aconteceu, o professor McGrath resolveu investigar sua ocorrência em pessoas saudáveis.

Seu estudo descobriu que uma em cada 20 pessoas experimenta algum grau de alucinação em algum ponto da vida.

Mais que a doenças, o fenômeno está associado às funções normais do cérebro.

Agora, um novo estudo revela que alucinações visuais podem ser causadas pelo cérebro tentando buscar sentido diante do mundo caótico e ambíguo em que vivemos.

A pesquisa foi realizada em parceria pelas universidades britânicas de  Cardiff e Cambridge, e publicada na revista científica PNAS.

Tomados em conjunto, estes estudos apontam para a idéia de que temos ou não temos psicoses.

Em vez disso, a psicose pode existir em um espectro.

Segundo os cientistas, não é um cérebro doente que gera alucinações, suas manifestações demosntram apenas o modo como o órgão funciona.

O que muda, ao que parece, é o grau em que isso acontece.

Muitas pessoas acreditam que seu sistema visual trabalha como uma câmera: os olhos captam o que veem e o cérebro processa a imagem, traduzindo-a em significados.

O problema é que este processo não é tão eficiente.

As informações que chegam ao cérebro são incompletas e, por este motivo, o órgão “preenche” o que falta com experiências prévias, vindas de memórias.

Este é um sistema que provavelmente evoluiu como resultado dos perigos inerentes em nosso ambiente primitivo e a necessidade de tomar decisões rápidas.

E, uma vez que o nosso conhecimento anterior é normalmente preciso, o sistema geralmente funciona bem.

Por este motivo, a ideia de que ver ou ouvir coisas que não estão lá parece incompreensível.

A origem das alucinações pode ser encontrada no próprio sistema visual, ao invés de estar localizada nos circuitos cerebrais especificamente associados à psicose ou esquizofrenia.

Os cientistas acreditam que as visões fantásticas sejam resultado de excesso de confiança do cérebro em informações prévias, o que significa que as lacunas do cérebro são preenchidas com detalhes que não existem.

Ao menos, não existiram naquela situação.

Para testar esta teoria, foram projetadas uma série de experimentos que mediram o quanto as pessoas baseiam-se no conhecimento prévio para identificar objetos em uma série de imagens confusas.

O primeiro segmento destes testes reuniu 16 voluntários saudáveis e 18 que vivenciaram episódios psicóticos, mas não desenvolveram a desordem.

Todos observaram imagens que, num primeiro momento, assemelhavam-se a borrões.

Em seguida, foram perguntados se poderiam identificar pessoas ou objetos naquelas imagens.

No segundo segmento do teste, todos observaram fotografias nítidas que basearam a criação dos borrões exibidos anteriormente.

Em seguida, os mesmos borrões lhes foram exibidos, e novamente os voluntários tiveram que neles buscar identificar pessoas e objetos.

As pessoas que revelaram sintomas de psicose tiveram melhor resultado no segundo segmento dos testes que as pessoas saudáveis.

Isso indica que seus cérebros utilizam de maneira mais eficiente as informações prévias para preencher as lacunas de seus sistemas visuais.

Esta descoberta é importante, porque sustenta a ideia de que a psicose é uma desordem de espectro, bem como o autismo, e não uma condição que você tem ou não tem.

Olhando para a frequência de alucinações e delírios na população em geral, sabe-se que surgem de processos normais da visão.

Estes resultados mostram que as alucinações parecem ser uma parte normal da experiência humana, desde que não se sobreponham e prejudiquem a vida das pessoas.

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