Contar calorias ou contar com o bom senso?

Entre todos os métodos de perda e manutenção de peso, queimar energia no cálculo de calorias é o pior deles. Leia meu artigo, que foi publicado originalmente na revista Veja.

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Desde meu primeiro livro eu defendo que dietas baseadas em restrição calórica não funcionam no longo prazo.

Fazer da calculadora o “quarto talher” só gera obsessão em relação a comida.

Mas há um efeito ainda pior deste tipo de dieta do que simplesmente não funcionar: contar calorias engorda!

Porque costuma levar a um desequilíbrio de nutrientes tão grande que, por consequência, nos fazer pensar em comida o tempo todo; menos quando estamos comendo.

O método de contagem de calorias é absolutamente ultrapassado.

Foi desenvolvido na segunda metade do século XIX por um químico americano chamado Wilbur Olin Atwater que, com a intenção de medir quanta energia havia embutida em cada alimento, resolveu botar fogo neles e medir a energia que liberavam, por grama, para aquecer 1 ml de água em um grau centígrado.

Uma teoria que, apesar de antiga e dotada de vários furos, resistiu até hoje.

A saúde do corpo não passa por simples equações matemáticas de somar e subtrair.

Primeiro porque cada organismo tem um metabolismo singular, ou seja, queima calorias ao seu ritmo.

Quem nunca teve um amigo magricela que come até dizer chega?

Ou aquela amiga que, mesmo passando a vida toda em dieta, nunca chega ao peso ideal?

Fatores como massa muscular, idade, altura e peso interferem muito no nosso metabolismo basal – responsável por queimar calorias mesmo quando estamos em repouso.

Não dá para subestimar nossa carga genética ao seguir um plano de reeducação alimentar.

Por outro lado (e felizmente), não são apenas os genes que determinam o biótipo que podemos ter.

Há como acelerar nosso metabolismo com o exercício físico e com o ganho de musculatura.

Ou inibindo hábitos que podem retardá-lo: consumir bebida alcoólica é um deles.

Mas além de cada indivíduo ser único na sua singularidade, cada alimento também tem suas próprias características.

O efeito de 200 kcal de pão no organismo é totalmente diferente do obtido pelo mesmo valor calórico extraído do consumo de ovos, ou de uma colher de azeite por exemplo.

A proteína requer em torno de 25% de sua energia para ser digerida pelo organismo, enquanto que o carboidrato e a gordura exigem apenas 5%.

Além disso, devemos considerar se o alimento está sendo consumido, ou não, com fibras; que aumentam a velocidade de trânsito pelo sistema digestório reduzindo um pouco o valor das calorias absorvidas.

O modo de preparo, a textura, a composição e até o formato do alimento também podem ser responsáveis por aumentar ou diminuir a liberação de calorias no organismo.

A regra é: quanto mais cozido o alimento, mais macio ele fica, e mais fácil de ter seu valor calórico totalmente absorvido pelo corpo.

Um linguine molenga cozido por 6 minutos tornará seu amido muito mais disponível do que o de um rigatoni al dente.

E se for integral, mais fibras (e trabalho) dará ao organismo para extrair energia dele.

Deixar a massa cozida descansar em geladeira antes de servir também altera a estrutura do amido do macarrão, tornando-o um carboidrato mais resistente.

A melhor dieta é aquela que nem percebemos que estamos nela por não exigir grandes renúncias à mesa.

Ninguém gosta de privar-se daquilo que faz bem e alimenta corpo e alma.

Para se reeducar, o melhor a fazer é comer o que você gosta, e não o que acha que deveria comer.

Procurando sempre diminuir a quantidade no prato, servindo-se apenas daquilo que achar razoável.

Abandonar um cardápio que gostamos é inútil porque é algo insustentável para o resto da vida.

Se puder encontrar alternativas para saborear seus pratos prediletos com menos gordura, carboidrato, mais fibras, e sem açúcar, ótimo.

O que você não pode é abrir mão do seu prazer de comer – e viver

Texto publicado originalmente na revista Veja.

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