O fim justifica os meios?

O fim justifica os meios?

Todos os anos, o McDia Feliz arrecada recursos para instituições que promovem a saúde infantil. É claro que se trata de um belo gesto. Mas a ocasião também torna oportuno pensar: afinal, é justo combater um mal promovendo outro?

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Em 2013, a campanha do McDonald’s arrecadou R$ 20.441.012,00 e beneficiou 81 projetos de 58 instituições em todo o Brasil. Segundo o site do Instituto Ronald McDonald, o dinheiro destina-se a beneficiar a luta contra o câncer infantojuvenil, uma causa assumida há mais de 30 anos pela rede de restaurantes.

Nos Estados Unidos, no mês de agosto também se realiza o Dairy Queen’s Miracle Treat Day, quando um dólar da venda de cada sorvete Blizzard vai para ajudar hospitais infantis do país.

Aparentemente, a ideia de arrecadar fundos vendendo fast food não é nova nem exclusiva. A rede americana Krispy Kreme promove uma corrida em que os participantes devem comer 12 doughnuts durante o percurso, ou 2.400 calorias, para que o dinheiro das inscrições virem doações. Até a Unicef se utiliza do expediente, vendendo doces de “marca própria” para mandar dinheiro para escolas na África.

Afinal, é válido tolerar o estilo de vida que tanto combatemos, pelo menos por um dia, seja pelo motivo que for? Não acho.

No Brasil, apesar da desnutrição ainda ser uma triste realidade, a obesidade infantil praticamente dobrou nos últimos 10 anos. Calcula-se que cerca de 15% das crianças brasileiras sejam obesas. Nos EUA, os casos triplicaram desde os anos 1980. Entre as causas está o consumo dos mesmos itens que prometem cuidar de sua saúde.

A Organização Mundial de Saúde declarou a obesidade infantil uma “epidemia global”: mais de 22 milhões de crianças com idade inferior a cinco anos apresentam excesso de peso ou obesidade franca. Mais de 2/3 se tornarão adultos obesos e terão sua expectativa de vida reduzida entre cinco e 20 anos.

Arrecadar fundos para a saúde vendendo doença não só é contraproducente como se revela uma falácia: discurso publicitário onde “só um tapinha não dói”.

Gostaria de ver a criatividade dos publicitários e a disposição dos anunciantes empregados de maneira que ninguém pudesse questionar seus métodos.

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