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Negacionistas da alimentação saudável e xiitas da comida orgânica se enfrentam. Leia meu artigo publicado na revista Veja.
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Até a década passada, grandes redes mundiais de fast food, começaram a ficar preocupadas com o crescimento da onda saudável no mundo.
E passaram a servir salada em potes no lugar da batatinha, e maçã cortada em palitos nos lanches das crianças. O bom senso parecia reinar após décadas de acusações pesadas contra o fast food.
Só que tudo isso acabou com a ascensão dos negacionistas da alimentação saudável.
Os negacionistas são aquelas pessoas que não querem ver o óbvio: que o excesso da trindade gordura, sal e açúcar faz muito mal à saúde, e não só a longo prazo.
Esse time reúne os fãs de hamburguerias autodefinidas gourmet, food trucks e restaurantes rústicos.
Alguns deles servem verdadeiras bombas calóricas: sanduíches verticais, de vários andares, com queijo derretido sobrando pelas laterais.
Seus restaurantes são verdadeiros altares profanos onde se idolatra a caloria como fonte de prazer gastronômico.
As quantidades pantagruélicas de junk food foram aumentando ao longo do tempo.
Desde que eu nasci, em meados dos anos 50, o tamanho de um sanduíche médio nos Estados Unidos cresceu três vezes, de acordo com o documentário “Direto ao Assunto” da Netflix.
O Brasil não ficou atrás.
O IBGE mostrou que, em dez anos, a frequência no consumo de pizzas e sanduíches aumentou, enquanto diminuiu a preferência pelo arroz e feijão.
O distanciamento social, de qualquer maneira, só intensificou uma tendência que já vinha sendo esboçada.
Infelizmente, a principal força de oposição aos negacionistas é a dos xiitas da alimentação natural, aqueles indivíduos que pregam que “ou você é do bem, ou não é”.
São pessoas que não admitem nada além do que consta em sua cartilha restrita de ingredientes, e que cobram da sociedade um posicionamento inflexível contra transgênicos, hortaliças não-orgânicas, sacrifício de animais, uso de microondas, adoçante, todo tipo de alimento refinado, glúten e lactose.
Disseminam a ideia de que, no campo da comida, existem vilões por toda parte!
Há um inegável elitismo nessa posição, pois a alimentação orgânica, artesanal, fresca, integral, e com proteínas vegetais de extrema qualidade, mais cara por sua própria natureza, não é para todos.
Com a visão nublada por ideias rígidas, os extremistas estão cegos para os avanços tecnológicos trazidos pela indústria na busca de soluções que alcancem bilhões de pessoas (é fato que a produção “artesanal” seria insustentável para alimentar tantas bocas).
E tal cegueira leva apenas a uma polarização que em nada contribui para melhorar a alimentação do brasileiro.
Precisamos entender que a indústria de fast food e a agricultura orgânica não são, isoladamente, respostas satisfatórias.
A primeira ameaça à saúde coletiva; a segunda não daria conta de produzir o suficiente para alimentar o planeta.
Os pratos da balança devem se manter em equilíbrio.
Como diria Aristóteles, “virtus in medium est” (“a virtude está no meio”).
O bom senso não pode continuar ensanduichado entre os dois extremos.
Originalmente publicado na revista Veja.
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