Vacinação, otimismo e desafios

Voltar a crescer é condição necessária para superar esse que é o maior desafio da política econômica: a reinclusão das pessoas no mercado de trabalho. Leia a coluna de Luiz Carlos Trabuco Cappi publicada no Estadão.

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A vacinação em massa é a porta de entrada para a retomada do crescimento.

Eis um sólido consenso.

A intensificação da imunização é fator preponderante para uma mudança de expectativa em relação ao futuro.

Os especialistas já projetam para setembro/outubro pelo menos a aplicação da primeira dose na totalidade dos brasileiros adultos.

Apesar das conquistas reais na imunização em massa, a média do número de óbitos diários pelo coronavírus, com suas várias cepas em circulação no País, segue em patamares elevados.

Todos os cuidados sanitários, da parte dos entes públicos e privados, continuam sendo extremamente necessários.

As projeções para o PIB em 2021 refletem mais confiança.

A partir de abril, elas cresceram por dez semanas consecutivas, apontando na semana passada para 5,05%.

O Ibovespa tem se mantido em torno dos 125 mil pontos.

Investimentos privados em infraestrutura, compras de máquinas e ampliação de produção reagiram, crescendo 17% no primeiro trimestre.

Uma forte dúvida, porém, reside na sustentação desses números.

A inflação preocupa.

O IBGE apurou uma aceleração no índice de preços de 0,83% em maio, a maior para o mês em 25 anos.

A alta acumulada em 12 meses saltou para 8,06%.

Na quarta semana de junho, o mercado fez a 12.ª correção consecutiva para cima na projeção inflacionária para este ano, batendo em 5,97%.

A se confirmar, ficaria além da meta de 3,75% somada à margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (5,25%).

O Copom promoveu em junho a terceira elevação sucessiva da Selic, de 0,75 ponto porcentual, deixando-a em 4,25% ao ano.

Adiantou ainda que igual correção deverá ser feita em julho, admitindo que “a persistência da pressão inflacionária se revela maior que a esperada”.

O remédio para controlar a disparada nos preços – o juro – trouxe o dólar para baixo de R$ 5 pela primeira vez em um ano e bloqueia os arroubos de euforia tão comuns em tempos de saída das crises.

Ao elevar o juro, o Copom pretende dar consistência à retomada.

E evita-se, assim, o indesejado “stop and go” na economia, que já sofre com o abre e fecha da pandemia.

O desemprego também preocupa.

O Brasil tem o maior número de desocupados da história, com 14,8 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.

Essa ociosidade tem reflexo direto na queda da renda média da população, que ficou este mês abaixo de R$ 1 mil pela primeira vez em dez anos, segundo a FGV.

Voltar a crescer é condição necessária para superar esse que é o maior desafio da política econômica, a reinclusão das pessoas no mercado de trabalho.

Entre dados e projeções, sobressai a persistente vocação da economia brasileira de aproveitar as janelas de oportunidade.

Os financiamentos de imóveis e veículos têm crescido acima da média.

As exportações do agronegócio beneficiam-se do aumento da demanda na China: cresceram robustos 33,7% em maio sobre o mesmo mês do ano passado, atingindo o recorde histórico de US$ 13,9 bilhões.

Relevantes investimentos na economia digital são anunciados diariamente.

Neste momento decisivo, é importante tornar o crescimento consistente e de longo prazo.

Não se pode perder de vista o equilíbrio fiscal e insistir um pouco mais nas reformas possíveis, pois os riscos estão presentes.

Como agora com a crise hídrica, que ameaça impactar a economia com mais inflação, racionamento de energia e apagões localizados.

Os aumentos da conta de luz são uma realidade inevitável.

As pesquisas de opinião indicam que a população manifesta preocupações com relação ao País e suas perspectivas.

Mas o início, embora tardio, de um ritmo mais intenso na vacinação acende a luz da esperança.

O resultado da pesquisa Datafolha de maio pode ser explicado por esse novo momento da imunização.

Mesmo diante da crise hídrica, inflação e desemprego, à pergunta direta sobre se o Brasil “tem jeito”, 90% responderam “sim”.

Regozijo-me, desde sempre, de estar junto desta imensa e sábia maioria.

Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo.

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