Staycation

Tendência de comportamento pós-Covid-19 dilui a fronteira entre trabalho e lazer. Leia meu artigo publicado na revista Veja.

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A canção De Repente Califórnia foi composta por Lulu Santos e Nelson Motta para o filme Menino do Rio.

Tanto o filme como a trilha sonora marcaram a geração brasileira dos anos 1980.

Naquela época, a fuga para o estado americano significava deixar o trabalho para trás em busca da doçura de não fazer nada, um dolce far niente.

Todo mundo queria ser artista de cinema em Hollywood, no melhor estilo californiano.

Corta para 2020 e, em meio a uma pandemia, o GPS da idealização aponta para outro destino.

É como se a canção fosse atualizada: “garota, agora eu vou para Barbados”.

A ilha caribenha se coloca como destino do staycation.

A palavra combina “stay” (“permanecer, ficar”) com “vacation” (“folga”).

Trata-se de uma tendência de consumo e comportamento que deve se manter no futuro período de transição já denominado de vida pós-Covid-19.

O conceito dilui definitivamente a fronteira entre trabalho e lazer, para o benefício do empregador e do empregado.

O CEP de onde vamos colaborar passa a ser uma escolha.

Então, por que trabalhar em casa quando você poderia estar produzindo nas praias de Barbados?

Lá, a primeira-ministra Mia Amor Mottley lançou um visto especial que permite permanecer e trabalhar no Caribe por um ano.

Essa espécie de “green card” tem como objetivo impulsionar a economia da ilha, que foi fortemente afetada já que o turismo representa 40% do PIB do país.

E esse não é o único que oferece incentivos durante a pandemia.

No mês passado, a Estônia estabeleceu seu “visto nômade digital”.

O Chipre prometeu cobrir todas as despesas de vida e assistência médica para viajantes que testarem positivo para o vírus enquanto estiverem no país.

E a Itália e a Grécia estão oferecendo passagens aéreas com desconto para atrair turistas-trabalhadores.

Nessa toada, os hotéis readaptam seus quartos para novos “room offices”. Pessoas que trabalham de casa acionam o room service dos hotéis próximos, podendo manter ao menos o coffee break da antiga rotina.

E o movimento inclui a família, sim, já que as crianças também estão estudando a distância. Assim, podem todos curtir temporadas na praia.

Acompanho esse movimento com interesse, mas não com surpresa.

Cinco anos atrás, percebi que colegas que trabalhavam comigo rendiam muito mais fora do escritório.

Um deles passou a conciliar o trabalho com a participação em provas de maratona no exterior.

Outro foi morar na Austrália, e me provou que a enorme diferença de fuso horário não seria um problema.

Ao contrário, um pedido feito às 11 horas da noite costumava ser entregue às 7 da manhã do dia seguinte.

Confúcio dizia: “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”.

A staycation radicaliza essa proposição.

Gostou da ideia? Então, mãos à obra.

Ou melhor, às malas.

E vamos já colocar a Califórnia (ou Barbados, ou qualquer outro lugar) no seu currículo.

Originalmente publicado na revista Veja.

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