Seu controle é uma ilusão

Seu controle é uma ilusão

Você aperta o botão para fechar o farol e atravessar a rua com segurança. Segundo cientistas, isso é só uma ilusão ao estilo Matrix. O efeito é nos fazer pensar que estamos no controle. 

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É um reflexo criado por anos de hábito: você vê um botão, aperta e alguma coisa acontece.

O mundo é cheio deles, de campainhas a caixas eletrônicos, passando é claro pelo telefone.

Mas alguns botões nos quais confiamos não passam de artifício.

São “placebos” que promovem a ilusão de que controlamos as coisas

Não importa o quão forte ou por quanto tempo você pressione, não altera o resultado.

Prepare-se para se surpreender (ou desapontar-se) com alguns destes exemplos.

Botão para abrir e fechar o elevador

Apertar este botão pode até fazer você se sentir bem, mas o gesto não fará nada em benefício de seu deslocamento.

A matéria do The New York Times entrevistou Karen. W. Penafiel, diretora executiva de uma empresa de elevadores.

Segundo ela, o botão que abre e fecha as portas localizado dentro do elevador tornou-se obsoleto após aprovação de lei americana para mobilidade de pessoas com deficiência.

A legislação daquele país requer que as portas dos elevadores permaneçam abertas tempo suficiente para facilitar a passagem de pessoas que usam muletas ou cadeiras de rodas, por exemplo.

Por este motivo, o passageiro não consegue alterar a velocidade com que se abre ou fecha a porta de elevadores.

Este botão pode ser acionado (e funcionar) por bombeiros e o pessoal da manutenção, que têm os códigos necessários.

Botoeira na faixa de pedestre

Por anos a fio seguimos as instruções destes botões que supostamente deveriam fazer o semáforo mudar, de modo a facilitar a travessia de pedestres.

Mas, como repostou o The New York Times em 2004, a municipalidade desativou a maioria das botoeiras para pedestres.

O sistema manual é incompatível com o controle digital e feito à distância que opera os semáforos.

Na ocasião da matéria, mais de 2.500 botões dos 3.500 existentes não funcionavam.

Hoje, a prefeitura de Nova York declarou que 120 destes botões efetivamente funcionam na cidade.

Cerca de 500 foram retirados em projetos de renovação.

Mas, diante do custo estimado de um milhão de dólares para a retirada dos botões inoperantes, o restante permanece no local.

Uma matéria da rede ABC News em 2010 conseguiu encontra apenas um botão funcionando, em pesquisa feita nos semáforos de Austin (Texas), Gainesville (Flórida) e Syracuse (estado de Nova York).

Termostatos em escritórios

Com certeza você já se aborreceu com alguém sobre a temperatura do ar condicionado.

Nos Estados Unidos, estas confusões acontecem não apenas quando faz calor, mas também quando esfria.

Por conta dos invernos rigorosos, é comum que casas e escritórios naquele país usem termostatos, uma espécie de controle remoto para regular a temperatura do ambiente.

Se em uma residência o conflito se restringe aos membros de uma única família, em uma empresa a situação pode realmente incomodar.

Dependendo do local de trabalho, o termostato fica trancado em uma caixa de acrílico, cujo acesso responde à hierarquia.

Quem tem mais tempo na empresa pode ganhar o controle – ou pensar assim.

Em uma pesquisa realizada entre representantes de empresas de aquecimento e refrigeração, profissionais do setor confessaram instalar termostatos inoperantes.

Sem perceber que o aparelho não funciona, as pessoas seguem apertando seus botões.

Esta ilusão de controle reduziu as chamadas de reparos do equipamento em 75%.

Senso de controle

Ainda que estes botões não funcionem, servem a uma importante função em nossa saúde mental.

Esta é a opinião da Dra. Ellen J. Langer, professora de psicologia da Universidade de Harvard.

Seu campo de estudo é a ilusão do controle.

“A percepção de ter o controle sobre algo é muito importante, ao diminuir o estresse e promover o bem-estar”.

Outro psicólogo entrevistado, o professor John Kounios, da Universidade Drexel University, disse não haver prejuízo com a “mentira” perpetuada por estes botões que não funcionam.

“Como a perda de controle é associada à depressão, o recurso pode ser visto como levemente terapêutico”.

Como se vê, precisamos da ilusão de que podemos controlar ao menos as coisas mais simples.

Porque as mais complexas, que nos tomam a maior parte do dia, já são difíceis demais.

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