A revolução das especiarias

Há cinco séculos, elas dominam a culinária no mundo todo. Leia meu artigo publicado na revista Veja.

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Hoje em dia é muito fácil obter um punhado de cravos, um vidrinho de pimenta ou um pouco de noz-moscada.

Basta ir até o mercado da esquina ou mesmo usar o sistema de entrega de algum aplicativo.

É tão simples que fica difícil imaginar que, tempos atrás, a busca por tais especiarias provocava disputas violentas, impulsionava a navegação por mares desconhecidos e projetava os primórdios da globalização.

Essa história, que aprendemos na escola desde as primeiras lições, está agora contada na série “Sem Limites”, uma superprodução com Rodrigo Santoro no papel de Fernão de Magalhães, o navegador português que, desprezado pelo rei lusitano, resolve oferecer seus serviços à monarquia espanhola para chegar à Ásia pelo Ocidente.

Em 1519, liderando uma frota de caravelas, ele parte à procura de uma hipotética passagem, ao sul das Américas, que ligaria os oceanos Atlântico e Pacífico.

O estreito, que seria batizado com o seu nome, o levaria, depois de uma viagem épica, ao único lugar do mundo onde algumas das mais cobiçadas especiarias brotavam da natureza – as ilhas Molucas, na Indonésia.

A enorme demanda por aqueles condimentos jogava os preços nas alturas, enriquecendo tripulações e comerciantes da noite para o dia, o que justificava as mais ousadas aventuras.

Entre as especiarias, a pimenta era ouro em pó.

Não que antes das circum-navegações fosse desconhecida no Ocidente.

Desde o Império Romano, vinha sendo utilizada na culinária daquela imensa região – o próprio nome tem origem latina: “pigmenta”.

Mas foi a linha direta estabelecida com a Ásia que impactou os hábitos alimentares dos europeus e, na esteira da colonização portuguesa e espanhola, se estendeu aos habitantes de grande parte do mundo, Brasil inclusive.

Dizia-se que a pimenta era necessária para disfarçar o gosto de uma carne precariamente conservada.

É verdade, mas o fato é que também se valorizavam suas propriedades medicinais e seu aroma forte e perfumado, que com o tempo seria incorporado à gastronomia internacional.

Cinco séculos mais tarde, as especiarias continuam dominando a culinária no mundo todo.

Da minha parte, não abro mão das pimentas.

Não apenas ressaltam sabores, como fazem bem à saúde.

As substâncias que dão o sabor característico das pimentas são a piperina, um poderoso antioxidante, e a capsaicina, cuja ação termogênica eleva a temperatura corporal, acelerando o metabolismo.

Quanto mais ardida a pimenta, maior a queima de calorias.

Ou seja, se a intenção é perder uns quilos, a picante malagueta originária do Amazonas é mais eficiente do que a suave dedo-de-moça.

Além disso, as pimentas substituem com vantagem outros ingredientes que também apuram o gosto dos alimentos, como o sal e a gordura.

Quanto ao cravo, bem, só posso dizer que o meu doce de abóbora light não seria o mesmo se não fosse coroado por essa gema floral seca.

Se não fosse por razões mais graves, como a influência na geopolítica e o destino de impérios, o empenho de Fernão de Magalhães e seus pares já teria valido a pena por revolucionar a gastronomia.

Publicado originalmente na revista Veja.

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