Polêmica sob medida

Alimentos sob medida

Na contramão dos alimentos processados, pequenas empresas começam a fabricar produtos diferenciados para nichos de consumo. Uma destas iniciativas propõe a fabricação de leite e iogurte mais próximos aos recomendados por Michael Pollan. 

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O consumo regular de leite faz um bem inegável ao corpo.

Ao menos se este for desnatado, com 1% ou 2% de gordura ou qualquer um dos outros produtos lácteos que a indústria da dieta foi criando ao longo das últimas décadas.

No dilema de Tostines, é difícil precisar quem veio primeiro: os produtos light ou os consumidores focados na boa forma.

O fato é que um número crescente de consumidores preocupados com a saúde têm optado por declinar da versão aquosa conhecida como desnatada para servir-se do ingrediente cremoso, gordo e fresco, mais próximo do leite ordenhado na fazenda.

Em estudos, debates e livros lançados recentemente, a gordura saturada, encontrada principalmente em produtos de origem animal (como no leite) tem tido sua má-fama revertida.

E se, afinal, a gordura saturada não for vilã?

Esta é a esperança de Evan Sims, criador da marca de iogurtes Peak.

Trata-se de uma nova startup dedicada a produzir laticínios com absurdos 18% de gordura – ou três vezes o oferecido pelas marcas tradicionais.

Nesta preferência, Evan não está sozinho.

É o que prova sua campanha na plataforma Indiegogo, que busca viabilizar a iniciativa via financiamento coletivo.

Até o momento, a meta foi cumprida em 106%.

Esta é a mostra de que um número crescente de pessoas se interessa por produtos mais naturais.

E dispõe-se a viabilizá-los, a despeito de sua (atual) fama e da padronização do paladar e dos hábitos alimentares determinada pela indústria dos alimentos.

É o que defende Michael Pollan, um dos autores mais prestigiados no mundo quando o tema é alimentação.

Em seu livro Em defesa da comida, Pollan argumenta que o leite integral é melhor que o leite com baixo ou nenhum teor de gordura por ser menos processado e ter menos açúcar.

Por que, afinal, quando se retira a gordura de algum alimento, é preciso adicionar uma grande quantidade de outras substâncias que são tão ruins quanto, ou até mais, para fazer com que seu sabor seja minimamente decente.

Recentemente, uma meta-análise feita por uma equipe de cientistas, que questionava a suposta conexão entre gordura saturada e doenças do coração, colocou o debate sob os holofotes.

Posteriormente, um relatório do governo americano, feito pelo Comitê de Diretrizes Alimentares, determinou a necessidade de que sejam reexaminados os atuais limites recomendados sobre o consumo de gordura.

Na argumentação de venda do produto, Evans pontua que seu iogurte é a melhor escolha por três fatores: energia, nutrição e sabor.

No quesito “energia”, a gordura do leite integral não aumenta o nível de glicose no sangue, sendo por este motivo uma grande fonte de energia para aqueles que procuram uma alternativa para alimentos ricos em carboidratos e açúcar.

É também muito baixa em gordura poli-insaturada ômega-6, por isso não contribui para o estresse oxidativo e inflamação do corpo (ao contrário de soja, canola, milho e a maioria dos outros óleos vegetais).

Quanto a nutrição, a gordura do leite é rica em vitamina K2, um nutriente essencial que poucos ouviram falar – e muitos não conseguem ter o suficiente.

A vitamina K2 impede a calcificação das artérias, garante a saúde óssea e dentária, e é fundamental para evitar doenças cardíacas e osteoporose.

A gordura do leite é uma das poucas fontes naturais de vitamina K2 – especialmente quando as vacas são alimentadas unicamente com grama.

Trata-se também da única e melhor fonte de butirato, um ácido graxo de cadeia curta com muitos benefícios para a saúde, que incluem apoio à saúde digestiva e propriedades anti-inflamatórias.

Ainda, a gordura do leite é uma excelente fonte de ácido linoleico conjugado (CLA), o qual tem propriedades anti-cancerígenas e podem ajudar na perda de peso.

Quanto ao sabor, basta lembrar que a gordura é adicionada pela indústria em alimentos para que fiquem mais gostosos.

Quando ela é retirada, é preciso somar outros ingredientes que compensem esta perda.

Por este motivo, a maioria das marcas de iogurte contêm de 35% a 55% de suas calorias provenientes de açúcar adicionado (ou “escondido”), o que faz com que assemelhem-se aos doces normais.

Mas, antes que você mude a lista do supermercado, é preciso lembrar que tudo isso pode ser revertido no próximo estudo a ser divulgado.

Já vimos acontecer com os ovos, agora “liberador” e o glúten, momentaneamente “proibido”.

peak

18% de gordura: iogurte “gordo” que garante ser saudável

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