Os sóbrios anos 20

Brindar à vida sem o ônus da ressaca é tendência. Leia meu artigo publicado na revista Veja.

Leia mais:

Meu pulo do gato – Veja como perdi e mantenho longe mais de 60 quilos
Reeducação alimentar – Conheça o cardápio que mudou a minha vida

De olho no pós-pandemia, muitos apontam para uma volta aos “Loucos Anos 20”.

Assim foi chamada a época depois da Primeira Guerra, marcada por uma maior liberdade na cultura e nos costumes.

Regados a gin e ao som do Charleston, foram anos inebriantes, criativos e tumultuados.

Mas, se fossemos encarar uma superação dessas hoje em dia, muito do entusiasmo seria curiosamente abstêmio.

Isso porque, de modo contraditório, estão na moda os drinks sem álcool.

Sim, um dos efeitos do isolamento foi o aumento do consumo de álcool em casa.

Aplicativos de entrega de bebidas registraram aumentos de 350%.

O interesse pelo vinho aumentou tanto que fez acabar garrafas e rolhas.

Ainda assim, o futuro é sóbrio.

Ou melhor dizendo, é do “sóbrio curioso”.

A ideia é curtir a vida dispensando a ressaca.

Se antes a Humanidade estaria duas doses atrás, segundo o ícone boêmio Humphrey Bogart, hoje o hype é estar de cara limpa.

Antenado é quem está 100% atento e focado em evoluir.

O conceito vem do best-seller “Sober Curious”, ainda inédito no Brasil, de Ruby Warrington.

E tem inspirado toda uma linha de bebidas que enriquece a experiência da convivência social para além das tradicionais opções sem álcool, que são água mineral, suco ou refrigerante.

Como explica Ruby, “ser sóbrio curioso significa, literalmente, escolher manter-se curioso sobre cada impulso, convite e expectativa de beber, em vez de seguir estupidamente a cultura dominante de bebida”.

A coisa toda é bem revolucionária.

Estar “sóbrio” nem sempre foi popular.

Nossa cultura já girou muito em torno do álcool.

Afinal, em toda celebração está um brinde.

E nem eu nem você queremos perder nenhuma festa.

Eis aí a maravilha deste movimento: estão todos convidados!

A tendência chega para atender a um novo público.

As pessoas querem sair, ver os amigos e ter um copo incrível na mão.

Mas também querem equilibrar isso com um novo estilo de vida, dispensando arrependimentos.

E, principalmente, as calorias vazias das bebidas alcoólicas.

Ninguém pensa nisso, mas em uma dose de gin estão as calorias de meio pãozinho!

Mesmo para quem não abre mão de uma completa experiência gastronômica, do apetitivo ao digestivo, o álcool pode não fazer falta.

As fórmulas destas novas bebidas incorporam aquela “pegada na língua”, além de ingredientes adaptogênicos para ajudar o corpo a eliminar o estresse.

O amargo vem do quinino ou do café, a acidez vem dos sumos cítricos.

As sensações de calor são trazidas pelo gengibre e pimentas.

Mas, se quiser levantar uma taça para celebrar a segunda dose da vacina de uma maneira mais tradicional, fique à vontade.

A curiosidade inclui o consumo moderado de álcool, que afinal é bem-vindo em caráter funcional.

Enfim, os “loucos anos 20” do século 21 se mostram bem diferentes.

Sai o divertimento noturno confinado em cafés e tabernas, e entram mesas ao ar livre, conversas interessantes e olhos nos olhos sem aditivos.

Décadas depois, talvez seja enfim chegada a nova era prevista na música do Lulu Santos.

De uma “gente fina, elegante e sincera”.

De cara limpa, “vamos viver tudo o que há para viver”.

Vamos nos permitir.

Publicado originalmente na revista Veja.

Tags: , , ,