Os novos ventos do Plano Biden
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Nossa economia, assim como a de outros emergentes, pode se beneficiar com o pacote de US$ 6 trilhões do presidente americano. Leia a coluna de Luiz Carlos Trabuco Cappi publicada no Estadão.
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Nossa economia, assim como a de outros emergentes, pode se beneficiar com o pacote de US$ 6 trilhões do presidente americano Joe Biden.
Válidos para os próximos dez anos, são três planos econômicos que se complementam: o de ajuda contra a pandemia, já executado, de US$ 1,9 trilhão; o de criação de empregos, que prevê US$ 2,3 trilhões em obras de infraestrutura; e o de proteção social, estimado em US$ 1,8 trilhão.
São novos ventos que podem ajudar a tirar o mundo do marasmo causado pela pandemia.
Os gastos em infraestrutura devem transformar os Estados Unidos num imenso canteiro de obras.
Já há consenso de que a retomada começa com o aumento da demanda por aço, petróleo, semimanufaturados e químicos.
A geração de empregos e renda aquecerá o consumo interno de carnes, grãos e todo tipo de produtos agrícolas.
O Brasil tem competitividade para atender essa pauta e outras mais.
Os custos do Plano Biden serão financiados, em grande parte, por incentivos fiscais e aumento de impostos, o que suscita críticas sobre equilíbrio fiscal e presença do Estado na economia.
Mas é importante analisar os custos e benefícios envolvidos.
Um destaque é a proposta da secretária do Tesouro, Janet Yellen, de aumento da tributação das empresas lá e a colocação de um imposto corporativo global.
Infelizmente, no Brasil, não há espaço para replicar o movimento, dada a alta carga tributária atual.
O risco inflacionário dos três pacotes inquieta os mercados.
A inflação projetada para 2021 nos EUA está em 3,3%.
Com a alta de 0,8% em abril, a taxa anualizada já está em 4,2%, a mais alta desde setembro de 2008.
Não é necessariamente ruim, se forem adotadas medidas corretivas.
A aceleração da atividade induz empregos e consumo nos EUA e estimula o comércio mundial, inclusive com o Brasil.
Mais à frente, haverá a necessidade de ajustes na política monetária do Fed, e isso deve resultar em nova rodada de alta dos juros pelos bancos centrais.
É um preço a pagar, mas, mesmo assim, os juros devem continuar abaixo de seu patamar histórico.
Para os EUA, taxas positivas tendem a atrair compradores de títulos do Tesouro, que migraram nos últimos anos para outros investimentos.
Biden já comemora os efeitos iniciais do pacote, que foi claramente inspirado no New Deal (1933-1937), do também democrata Franklin Delano Roosevelt, em resposta à crise de 1929.
Em 2020, a pandemia derrubou o PIB dos EUA em 3,5%, pior resultado desde 1946.
No último dia 11, Biden anunciou a criação de 1,5 milhão de empregos.
Ele colhe, ainda, os frutos da maior campanha de vacinação do planeta contra a covid-19.
A meta era imunizar 100 milhões de americanos nos primeiros 100 dias de governo.
Já são 200 milhões de vacinados antes desse prazo.
Biden prevê a recuperação mais veloz dos últimos 40 anos.
Em paralelo, estão sendo adotadas ações para sustentabilidade climática, maior globalização, redução da pobreza, combate ao racismo e inclusão de gênero.
São mensagens importantes para o mundo pós-pandemia.
Um complemento relevante são as ações da China, que investe na Nova Rota da Seda, projeto de infraestrutura para integração comercial da Ásia com Europa e África.
As projeções são encorajadoras para este ano, pois os Estados Unidos devem crescer 6,4%, a China 8,4% e a Zona do Euro 4,4%, segundo dados de abril do FMI.
As bolsas refletem esse otimismo.
Para o Brasil, os efeitos são imediatos.
O superávit comercial caminha para bater recorde em 2021, com US$ 89,4 bilhões.
Surpreende que, em janeiro, a previsão do saldo era de US$ 53 bi.
Em meio ao ajuste em sua política externa, o Brasil precisa aproveitar o momento para traçar um novo parâmetro para as relações bilaterais, tendo como sustentação os pilares do pragmatismo econômico e das propostas da Cúpula do Clima.
Observar os desdobramentos do experimento dos EUA, sopesando prós e contras, será muito útil ao País em sua necessária busca de crescimento.
Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo.
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