O dilema da proteína

Nunca se consumiu tanta proteína, sem que se registre benefício correspondente aos seres humanos. De olho na questão ambiental, muito pelo contrário. Afinal, o que sustenta esta crescente tendência?

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Quando o assunto é dieta, muitos dos que praticam o consumo consciente chegam à conclusão de que a proteína é o principal nutriente.

Mais especificamente, aquela que pode ser adquirida com o consumo de carne de frango.

Afinal, a popular dieta da proteína, também conhecida como paleo diet, teve sucesso em disseminar a importância de se garantir crescentes aportes de carne.

Ao mesmo tempo, as pessoas têm privilegiado o consumo da carne branca, em oposição à alternativa vermelha, relacionada a prejuízos sanitários e ambientais.

Com tudo isso, cresceu (e muito) o abate e venda de carne de frango.

O apetite global pelos galináceos suscita preocupação entre os especialistas em saúde, nutrição e meio ambiente.

Assim, vivemos uma crise em que o excesso é o problema.

No caso, excesso de proteínas, com prejuízos ao planeta e nenhum benefício aparente para os seres humanos.

“Existe a percepção de que  a proteína faz bem para nosso organismo, mas não sei de onde ela vem. Deve ser do marketing”, declarou Modi Mwatsama, diretor de saúde global do ONG britânica UK Health Forum, em entrevista ao jornal The Guardian.

A proteína é parte fundamental de nossa dieta.

Mas a recomendação de consumo diário, determinada pelo US Food and Drug Administration (FDA), é de 50 gramas; e não os 75 gramas que cidadãos americanos e ingleses, por exemplo, estão ingerindo.

O problema está sendo exacerbado pelas limitadas fontes de proteínas disponíveis.

As pessoas simplesmente desconhecem que podem adquirir boas quantidades do nutrientes de fontes vegetais e de peixes.

O ideal seria garantir a quantidade recomendada a partir de fontes variadas.

Globalmente, a expectativa é a de que a carne de frango venha a ser responsável pela metade da disponibilidade de carne até o fim da próxima década, ultrapassando os suínos.

Todos os anos, cerca de 52 bilhões de frangos e galinhas são abatidos, um número que pode dobrar se o consumo que se registra na Índia e China for seguido pelos países ocidentais.

A carne branca já é metade da carne consumida nos Estados Unidos e Grã Bretanha, quando nos anos 1990 correspondia a um terço.

Os produtores acreditam que, este ano, devido aos preços menores, a venda de carne branca deva superar a de carne vermelha nestes países pela primeira vez.

Em termos absolutos, a carne de frango e galinha tem menos gordura saturada, desde que seja descartada a pele dos animais e que em seu preparo não seja utilizada a fritura.

Mas, enquanto as pessoas já comem mais 40% ou 50% proteínas que o necessário, em média, a preocupação é que esta vantagem se dissipe.

Ao mesmo tempo em que não produz benefícios, a adesão a uma dieta com altos níveis de proteína causa problemas específicos a longo prazo.

Entre elas estão o risco de doenças inflamatórias intestinais, ao passos que o privilégio às proteínas em detrimentos aos carboidratos está associado à maior mortalidade advinda de doenças cardiovasculares.

Feijões, lentilhas, quinoa, grão de bico, ervilhas e trigo sarraceno, além de garantirem alternativas à proteína da carne branca, também aportam fibras.

Já os pescados trazem os ácidos graxos poli-insaturados, extremamente benéficos ao organismo.

Por isso, pense além dos discursos do marketing e dos modismos alimentares.

Diversificar a dieta, ao trazer mais proteínas de outras fontes que não o matadouro, faz bem não apenas ao meio ambiente e às causas contra maus-tratos ou crueldade contra animais, mas à sua saúde.

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