A melhor solução é a paz

Desafio da esperança é trabalhar com base nos valores do humanismo. Leia a coluna de Luiz Carlos Trabuco Cappi publicada no Estadão.

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Pilar central para a prosperidade humana e o desenvolvimento da civilização, a paz volta a ser um tema de avaliações e debates em todo o mundo, ao relembrarmos os 20 anos do acontecimento global mais dramático e determinante até agora para a definição do século 21.

O ataque terrorista às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, teve consequências políticas, sociais e econômicas que até hoje perduram, infelizmente.

Primeiro, foi o inacreditável choque de dois aviões Boeing lançados contra o World Trade Center, em Nova York; depois, outro avião de grande porte se chocou contra o Pentágono e um quarto caiu em um campo na Pensilvânia.

Todos se recordam daquele dia.

Eu estava aqui no Brasil, numa reunião de trabalho.

Quando assistimos ao vivo, pela TV, uma das questões que passamos a discutir foi a nova configuração do mundo dali por diante.

Estávamos no auge da globalização e a China já despontava como potência econômica.

Ficou óbvio que teríamos um mundo de mais riscos, insegurança e tensão política, com o surgimento de vingança das pessoas aos ataques terroristas.

Os ódios, as intolerâncias e os radicalismos políticos, certamente, fortaleceram suas raízes no 11 de setembro.

Hoje, 20 anos depois, com a retirada militar americana do Afeganistão, a volta do Taleban ao comando do país e o reaparecimento do Estado Islâmico no atentado ao aeroporto de Cabul, as dúvidas ressurgem.

A instabilidade geopolítica da região afeta China, Rússia, Paquistão, Índia e Irã, que fazem fronteira com o Afeganistão.

O 11 de setembro provocou duas guerras sangrentas: a do Iraque, entre março de 2003 e dezembro de 2011, e a do Afeganistão, que começou em outubro de 2001 e, oficialmente, acaba de terminar.

Ambas geraram outros conflitos, como a guerra civil da Síria e o surgimento do Estado Islâmico no Iraque.

O drama humano é o ponto central.

Nos últimos dez anos, o número de refugiados no mundo dobrou, chegando a 84 milhões, segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), que desenvolve um trabalho heroico no acolhimento dos refugiados.

Se formassem um país, seria um dos 17 mais populosos do planeta, equivalente à Turquia.

Uma tragédia humanitária.

A busca de segurança se tornou obsessiva.

Existe hoje um sentimento paranoico de que a nossa privacidade se acabou, em razão do avanço da tecnologia de vigilância.

O temor de uma recessão após o ataque terrorista aos EUA surgiu naturalmente.

O índice Dow Jones entrou em colapso e permaneceu uma semana praticamente sem pregão (reabriu dia 17, com queda de 7,13%).

Apenas os prejuízos na cidade de Nova York foram calculados em mais de US$ 100 bilhões. A resposta foi a queda acentuada dos juros para estimular a economia.

O Fed, banco central americano, reduziu a taxa de 5,41% no início de 2001 para 1,52% no final do ano.

As instituições financeiras ampliaram os créditos para aquisição de imóveis com instrumentos derivativos para alavancar as carteiras, aproveitando a liquidez gerada pelos juros baixos.

A inadimplência e a falta de garantias dos devedores provocaram, em 2008, uma crise financeira que espalhou a recessão globalmente.

A crise foi superada graças ao socorro de recursos do governo americano.

O sistema financeiro se tornou mais resiliente, com a instituição de uma série de regras e exigências de capital para o funcionamento dos bancos.

A intolerância religiosa, racial e política, entre outras formas de preconceito, porém, permaneceram depois do 11 de setembro.

O terrorismo, a intolerância e o radicalismo representam a recessão da democracia, por espalhar sentimentos negativos e exclusão, como vemos no Afeganistão.

Entretanto, estamos todos no mesmo barco; se remarmos juntos, podemos construir um mundo melhor e menos desigual.

O desafio da esperança é trabalhar com base nos valores do humanismo, entre eles a solidariedade.

As soluções duradouras se assentam nos pilares da democracia, da humildade e da paz.

Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo.

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