When I’m sixty-four

É impossível ouvir o suave clássico do beatle Paul McCartney sem refletir sobre a passagem dos anos. Leia minha coluna publicada na revista Veja.

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Pouco mais de meio século atrás, Paul McCartney compôs When I’m Sixty-­Four, música que desde então é inevitavelmente lembrada por aqueles que, como eu, fazem 64 anos.

No auge dos anos rebeldes, o jovem beatle projetava que sua amada estaria, naquele futuro distante, feliz e acomodada, tricotando ao pé da lareira.

Minha geração era pré-­adolescente quando, em 1967, foi lançado o álbum Sgt. Pepper’s, em que, entre clássicos da música pop, se destacava aquela canção suave, que evocava uma, por assim dizer, nostalgia do futuro.

Naquela época, a balada romântica não me fez pensar em nada.

Afinal, nenhum adolescente gosta de se imaginar com a idade de seus avós.

Hoje, é impossível ouvir essa música sem parar para refletir sobre a passagem do tempo.

O correr dos dias é enganosamente lento; quando olhamos para trás, quantos anos já se foram!

Tenho orgulho de ser uma baby boomer.

Nasci numa época em que as famílias tinham muitos filhos, e a memória carregada de lembranças de crises passadas.

Pertenço a uma geração de workaholics que buscava uma vida estável, sabia o que queria, e pouco se deixava influenciar.

Percebo que os jovens de hoje, com outros valores, são totalmente diferentes.

Muitos estão enfrentando a primeira grande crise de sua vida, e devem estar se perguntando como será o mundo quando forem adultos.

Quanto a mim, prefiro continuar olhando para a frente, para o novo “normal”, tentando vislumbrar oportunidades de atualização, que tendem a aumentar à medida que amadurecemos.

A tarefa de nos atualizarmos é ainda mais agradável se compartilhada.

Mesmo porque algumas pessoas nos fazem perceber quão obsoletos podemos ficar.

Pessoas assim provocam verdadeiras revoluções em nossa vida — revolução que, há quatro anos, tenho experimentado com Luiz, meu companheiro de todas as horas.

Estamos sempre mudando: mudamos como indivíduos; mudamos como sociedade e mudamos como geração.

Já fui festeira.

Quando criança, meu pai tinha um salão de festas e cresci associando a animação das pessoas a uma alegria pessoal.

Esse tempo passou; ampliei horizontes e percebi que as fontes de prazer são mais diversificadas.

Continuo comemorando meu aniversário, mas hoje a festa é interior, mais introspectiva, uma oportunidade de autoavaliação, de checagem da bússola que tem orientado minha trajetória.

Ao fazer isso, procuro emprestar um sentido novo ao aniversário.

Ouvi relatos de pessoas que, devido ao confinamento, resolveram pular a data que deveriam comemorar.

Algumas, de brincadeira, decidiram até descontar 2020 da soma dos anos vividos.

Não é o meu caso – nem de brincadeira.

Conto cada dia, cada mês, cada ano.

Depois de entrever a felicidade numa futura vida pacata, Paul pergunta na música: “Who could ask for more?”.

Quem, duas gerações adiante, poderia pedir mais?

Eu, por exemplo, poderia — e sei que não estou sozinha.

Mais desafios.

Quero mais pique.

E mais pique-pique também, porque festa é sobretudo um estado de espírito.

Valeu, Paul!

Publicado em Veja de 15 de julho de 2020, edição nº 2695.

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