A gata dos rótulos subiu no telhado

Categoria: Pense

O que podemos fazer online é poderoso. Como os inimigos da blogueira Vani Haris, as grandes empresas de alimentos. Com milhões de fãs e críticos, ela levanta a questão do ativismo virtual patrocinado pelo merchandising.

Vani Hari é a “gata dos rótulos”. O apelido vem de seu blog, Food Babe, cuja missão é desmascarar segredos das indústrias de alimentos, para forçar a transparência dos ingredientes que utilizam.

A maior de suas vitórias foi forçar a rede Subway a mudar a fórmula de seu pão, que utilizava como aditivo o azodicarbonamide, presente em espuma de colchões. Este agente químico garante a maciez de pães e bolos. Seu abaixo-assinado online fez a gigante do fast food prometer banir o ingrediente até o fim do ano.

Como público-alvo, são 300 mil assinantes de sua newsletter, 63 mil seguidores no Twitter e 650 mil no Facebook. E milhões de telespectadores, via aparições em telejornais das redes ABC, CNN e NBC. Entretanto, não dá para ignorar os críticos de que sua atuação talvez não seja tão desinteressada assim.

Suas newsletters indicam produtos “aternativos”, dos quais recebe comissões por cada venda. Receber suas dicas custa 17,99 dólares por mês (cerca de 40 reais). Palestras também reforçam o caixa. Procurada pela imprensa, recusou-se a revelar quanto arrecada com o site, enquanto tenta mascarar a indicação de produtos como fonte de renda.

Médicos e nutricionistas alinham-se do outro lado, apontando o fato de Vani não ser formada em nenhuma área ligada à alimentação. Para responder a esta constante “alfinetada”, ela costuma argumentar não ser preciso diploma para falar a verdade.

O órgão federal americano Federal Trade Commission obriga que blogueiros tornem claro a fonte de seus rendimentos, exatamente para que não ludibriem seus seguidores. Outros inimigos poderosos são a FDA, responsável pela aprovação de alimentos para consumo nos Estados Unidos, e as próprias empresas. Como a cervejaria Anheuser-Busch InBev, instada a revelar o conteúdo de seus produtos, que supostamente incluem combustível de avião. São comparações como esta que chamam atenção para seu trabalho – e enfurecem os que a criticam por veicular meias verdades para promover-se.

A onda dos blogueiros é esta mesma. Enquanto chamam a atenção para si, buscam trazer a mesma visibilidade para os produtos e marcas que aprovam e promovem. É bom acompanhar, mas melhor ainda é encarar com ceticismo a espontaneidade de qualquer ativismo.