Fugindo da escassez

As restrições e bloqueios impostos pela pandemia afetam a produção e circulação de alimentos. Estamos diante de uma eminente escassez de comida?

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O coronavírus concentrou a atenção do mundo na lamentável falta de ventiladores, máscaras respiratórias e leitos de unidades de terapia intensiva disponíveis em muitos países.

Menos atenção tem sido dada a outra escassez oculta no horizonte: comida.

O transporte é responsável por 90% de todo o comércio global, incluindo o comércio de alimentos.

À medida que as barreiras comerciais aumentam e os governos entram em pânico pela preservação de suas próprias fontes de alimentos, o coronavírus ameaça interromper as cadeias de suprimento globais.

A Rússia, o maior exportador de trigo do mundo, está limitando as exportações de grãos.

Não sei como nosso provérbio popular, que diz “farinha pouca, meu pirão primeiro”, ficaria em russo.

O Egito, maior importador de trigo do mundo, aumentou as compras de grãos e interrompeu as exportações de legumes.

Além desta mesquinharia estratégica, as restrições de locomoção de trabalhadores também influi.

A produção de culturas básicas, como trigo, milho e soja, foi menos afetada pelos bloqueios, pois suas colheitas são amplamente mecanizadas.

Mas a disponibilidade de frutas e vegetais frescos depende das pessoas, não das máquinas, para colher, processar e embalá-las.

Na Europa, normalmente são usados trabalhadores migrantes na época da colheita.

Sem poder cruzar as fronteiras, a mão-de-obra sazonal da Europa Oriental sumiu das fazendas da Espanha, Alemanha, Itália e França.

Na Inglaterra, morangos e aspargos estragam no campo: para os perecíveis, os problemas logísticos representam uma ameaça ainda maior ao suprimento.

Para não ir tão longe, o mesmo acontece na região cafeeira de São Paulo, a Alta Mogiana.

Trabalhadores do sul da Bahia e Vale do Jequitinhonha (MG) não poderão colher a próxima safra de café paulista.

A solução deverá ser acelerar a mecanização, provocando consequente desemprego.

Nenhum país está imune e os consumidores já estão sentindo o impacto.

Os preços do trigo subiram 8% e os do arroz 25%.

Na Nigéria, a maior economia da África, os preços do arroz aumentaram mais de 30% apenas nos últimos quatro dias de março.

Os países mais pobres serão atingidos com força, porque as pessoas simplesmente não podem comer quando os alimentos custam mais.

Os países que geralmente importam mais alimentos do que os exportam sofrerão mais por causa dos aumentos de preços e moedas mais fracas.

O pouco que consegue circular deve ser impulsionado pelos governos.

Para isso, os países devem eliminar restrições de importação e impostos excessivos.

Também é hora de facilitar o comércio e transporte regionais.

Por exemplo, na África, sem poder comprar frutas e legumes de mercados internacionais, os países poderão encontrá-los em outros vizinhos africanos.

É o mesmo na América Latina, onde os países da região podem atender à demanda continental de alimentos.

Não há razão para os portos e remessas globais parem, desde que sejam tomadas medidas preventivas contra o SARS-coV-2, garantindo que trabalhadores estejam seguros.

Desta forma, o potencial para o comércio regional é enorme.

Com os ingredientes próximos, poderíamos aprender mais com as gastronomias regionais, valorizando as culturas vizinhas e o estreitamento de laços.

A esperança é que estes novos arranjos locais estabilizem o mercado global de alimentos, tirando a escassez do horizonte.

Garantir a comida para todos faz parte da resposta imediata à pandemia.

Com as taxas de desemprego disparando, é crucial que as pessoas vulneráveis tenham acesso a alimentos nutritivos.

Afinal, enquanto a vacina não vem, nos resta fortalecer a imunidade pela nutrição.

Divulgar esta linha de ação é importante por ser acessível.

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