Focar em desenvolvimento e inclusão

É o momento de repensar alguns dos pilares fincados no pós-Guerra. Leia a coluna de Luiz Carlos Trabuco Cappi publicada no Estadão.

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O Dia D – 6 de junho de 1944 – foi a data do início da maior operação militar da história.

O desembarque das tropas conjuntas de Estados Unidos, Reino Unido e Canadá na Normandia fincou os alicerces para solapar as tropas nazistas na Europa, movimento decisivo para a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial, um ano depois.

No mês seguinte, em julho de 1944, do outro lado do Atlântico, deu-se início à construção da governança que veio a consolidar a paz mundial.

Em conferências, 44 países, incluindo o Brasil, celebraram os acordos de Bretton Woods, nos quais se estabeleceu a nova ordem econômica, monetária e financeira que contribuiria para um desenvolvimento global mais harmonioso.

Era consenso que a origem das guerras era econômica e um mecanismo multilateral se fazia necessário.

Na sequência, o crescimento da economia mundial surpreendeu positivamente.

Foi uma combinação de aumento da globalização, de estabilidade monetária e mais crédito disponível.

Os três pilares de Bretton Woods foram: um novo acordo monetário, no qual o dólar era conversível em ouro; a criação do Banco Internacional para

Reconstrução e Desenvolvimento, que financiaria o investimento nos países; e a constituição do Fundo Monetário Internacional, que ajudaria os países em crise de balanço de pagamentos.

O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento foi transformado posteriormente no Banco Mundial, que funciona bem até hoje e tem sede na capital norte-americana.

Está focado em projetos de desenvolvimento econômico com ênfase na erradicação da pobreza e sustentabilidade ambiental.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem atualmente 190 países membros.

Também sediado em Washington, continua, com alguns ajustes, na sua função original de promover a estabilidade financeira dos países.

Há críticas de que privilegia mais os credores do que os devedores, que são os mais necessitados.

No ano seguinte, 1945, foi fundada a Organização das Nações Unidas (ONU) para promover o diálogo e a paz mundial.

Dois anos depois foi assinado o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, conhecido pela sigla em inglês, GATT.

Tinha como objetivo incentivar o livre comércio internacional. Foi substituído pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

Mais avanços se registraram com o Acordo de Paris e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Neste momento, estamos combatendo outra guerra que deixa o mundo fragilizado, a guerra contra a pandemia.

Com velocidades diferentes, os países estão derrotando o vírus.

O foco agora é colocar a economia global numa trajetória sustentável de crescimento e inclusão.

É o momento de repensar alguns dos pilares fincados no pós-Guerra.

O papel do FMI, por exemplo.

O mundo está mais endividado e com uma demanda de financiamentos maior.

Ajudar os países, especialmente os mais pobres, é fundamental.

Outro ponto será fortalecer a ONU, a OMS e o Acordo de Paris, enquanto instituições capazes de coordenar os países em defesa da civilização.

No século passado, a disputa pelo controle do comércio no Atlântico entre uma potência marítima, a Inglaterra, e uma força econômica continental, a Alemanha, nos levou a duas guerras mundiais.

Hoje, o eixo do comércio se deslocou para o Pacífico, com a disputa entre Estados Unidos e China, que tem tudo para beneficiar o Brasil, exportador para ambos.

A pandemia deixou claro que, apesar de sermos todos diferentes, somos um único planeta e que uma boa parte dos problemas e soluções locais são globais.

O momento é oportuno para amplos debates sobre a construção de uma nova arquitetura econômica, monetária e financeira global.

É preciso refletir sobre alinhamentos que enderecem um futuro de paz e harmonia, num ambiente de respeito aos valores da empatia, solidariedade e governança.

E menos desigualdade.

Nesse ambiente de esperança fomos surpreendidos pela perda do grande jornalista Ribamar Oliveira, semana passada.

Um dos maiores especialistas em contas públicas, fará uma falta enorme quando tanto precisamos de informação de qualidade para elevar o nível do debate fiscal no Brasil.

Todas as mortes importam.

Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo.

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