A ficção da nutrição infantil

A diferença entre o é anunciado para crianças e o que elas devem comer é grande. Mais da metade dos alimentos na TV não atendem aos critérios de nutrição segura. Educados na mentira, os pequenos repetem escolhas erradas pelo resto da vida.

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Há um ano, as organizações que atuam em prol da infância comemoraram a recomendação do fim da propaganda voltada a crianças no Brasil.

Entretanto, a decisão tomada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) tem sido solenemente ignorada pelos fabricantes e agências de publicidade.

O Conanda é composto por entidades da sociedade civil e ministérios do governo federal.

Mas, mesmo com tamanha representatividade e suposta autoridade, seu trabalho foi inócuo.

Infelizmente, em relação aos produtos dirigidos à nutrição infantil, ninguém atua com inocência.

Um novo estudo, realizado nos Estados Unidos, revelou que 53% dos alimentos anunciados para crianças não contêm nutrientes em quantidades exigidas naquele país.

A pesquisa foi divulgada pela revista científica Preventing Chronic Disease.

Foram analisados 407 produtos aprovados pelo Children’s Food and Beverage Advertising Initiative (CFBAI), entidade de autorregulação mantida pelos próprios fabricantes de alimentos.

Em seguida, todos foram comparados com os parâmetros utilizados pelo Interagency Working Group (IWG), formado por órgãos governamentais de fiscalização.

Como resultado, mais da metade revelou perfil nutricional pobre, insatisfatório e insuficiente.

Especificamente, foi descoberto que 32% dos produtos excedem o limite recomendado de açúcar, 23% excedem o limite de gordura saturada e 15% têm sódio a mais que o permitido.

Pois são exatamente estes produtos os que mais aparecem em anúncios na TV.

Já os produtos que poderiam nutrir e contribuir para um desenvolvimento saudável não são nem anunciados.

Expostas a tamanha mentira, fica difícil convencer as crianças de que sucrilhos açucarados, por exemplo, não fazem bem.

Estas crianças, ao crescerem, terão formados hábitos alimentares distorcidos, acreditando piamente que fizeram as melhores escolhas.

Aqui como lá, é de se imaginar que o mesmo ocorra. E, talvez, em proporção ainda maior.

Assim fica difícil, já que o peso acumulado na infância dificilmente vai embora quando estes indivíduos chegam à idade adulta.

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