Esperando o quê?

Não existe momento certo para dar uma guinada. Leia minha coluna publicada na revista Veja.

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Percebo que muita gente acha que as grandes mudanças em suas vidas virão de uma decisão drástica e definitiva tomada a

partir de determinado dia – com frequência “segunda-feira que vem, sem falta”!

Isso pode até funcionar para um ou outro, mas não para a maioria

Eu mesma não me encaixo nesse perfil de indivíduos que acreditam nos benefícios de um corte radical de antigos hábitos que inaugurariam uma nova era pessoal.

Não existe, em geral, o “momento certo” para uma guinada.

O que há, isto sim, é um processo lento de amadurecimento que inscreve, na linha do tempo de cada um, pequenas alterações de comportamento.

Quando olhadas em conjunto, percebe-se que elas deram origem a um novo homem ou mulher.

Essa caminhada é feita de avanços e recuos, de erros e acertos.

O segredo do êxito é não desanimar diante dos obstáculos que certamente estarão à nossa frente.

O dramaturgo Samuel Beckett, mais conhecido pela peça “Esperando Godot”, estava inspirado quando escreveu que falhar não interessa, o que realmente importa é persistir: “Tente de novo. Falhe de novo. Falhe melhor”.

Aliás, essa ideia de falhar melhor virou mantra em start-ups.

Pode conferir: as novas empresas que estão bombando foram construídas sobre tentativas fracassadas.

Na vida corporativa, como na pessoal, a perseverança costuma recompensar.

Em entrevistas que dei ao longo dos últimos anos, sempre me perguntavam: “O que te fez mudar de vida?”

Nada em particular, eu respondia, mas sim um conjunto de coisas.

Se você ficar esperando o grande momento, talvez ele nunca se materialize.

No meu caso, esperei 38 anos até começar a compreender que a transição consistente é aquela que decorre de uma somatória de novos comportamentos.

Embora não haja o tal “momento certo” para a correção de rotas individuais, algumas fases da vida são mais propícias a transformações pessoais.

Fatores externos, como a pandemia, podem ser o gatilho desse processo.

Estes tempos de distanciamento social têm levado muitas pessoas a reflexões responsáveis por mudanças de rotinas.

A alimentação, sem dúvida, está no topo da lista.

Uma pesquisa recente mostrou que quatro em cada dez pessoas que cumprem quarentena alteraram o cardápio do dia-a-dia.

Antes acostumados a fazer refeições fora de casa, os confinados vão se adaptando às opções disponíveis.

Mas mudança não é sinônimo de melhora.

Alguns, acomodados com as facilidades do delivery, passaram a consumir mais junk food.

Outros, no entanto, descobriram as delícias de uma saudável comidinha caseira.

O ideal é mudar aos poucos, na base do um dia de cada vez.

Em vez de decidir seguir uma nova dieta a partir da semana que vem, por que não tentar comer melhor hoje?

Se fizer isso de novo amanhã e no dia seguinte e no outro, a mudança ocorrerá – na prática.

Isso vale para outras esferas da vida.

Em vez de prometer se dedicar com afinco à academia “quando tudo isso passar”, procure fazer um pouco de alongamento – hoje.

Por falar em exercício físico, já ouvi suspiros de saudades de um estilo de vida que nunca existiu.

Outro dia escutei: “Não vejo a hora de voltar para a academia.”

Será?

Ou será que o nostálgico em questão mais pagava mensalidades do que pedalava?

Não precisamos de uma situação-limite ou de um fundo do poço para começar a mudar.

O copo de estresse não precisa transbordar antes de você controlar a ansiedade.

A preocupação com a saúde não depende de estarmos em meio a uma crise de saúde.

Não façamos como os personagens de Godot, que esperam por um amanhã que nunca vem.

Publicado originalmente na revista Veja.

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