Empatia, solidariedade e generosidade
Os preceitos do ESG estão em franca disseminação junto aos investidores globais e guardam relação expressa com princípios cuja raiz mais profunda é a ética. Leia a coluna de Luiz Carlos Trabuco Cappi publicada no Estadão.
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Desconheço tema tão fascinante, multidisciplinar e atual para a vida de empresas como este que o universo capitalista moderno, de maneira sábia, resume em apenas três letras: ESG.
São as letras iniciais das palavras da língua inglesa para meio ambiente (environmental), social (social) e governança (governance).
Representam globalmente o desafio mais avançado para corporações atentas com o seu futuro e o da humanidade.
Na minha opinião, essas três palavras evocam três comportamentos: empatia, solidariedade e generosidade.
Em razão da ameaça à estabilidade do clima, as condições de desigualdade das populações vulneráveis e o anseio da sociedade por um equilíbrio mais justo no relacionamento entre pessoas, empresas e acionistas, o alinhamento às diretrizes ESG pelos donos do capital não tem meia-volta.
Ou a empresa adere ou arrisca sua viabilidade econômica em curto espaço de tempo.
Os preceitos do ESG estão em franca disseminação junto aos investidores globais e guardam relação expressa com princípios cuja raiz mais profunda é a ética.
O lucro pelo lucro saiu de moda.
ESG abarca muitos ganhos civilizatórios do século 20 e agrega preocupações novas e urgentes.
O conceito PPP – Pessoas, Produção e Planeta –, que resumiu as Metas do Milênio, lançadas em 2000 pela ONU, foi o embrião do ESG.
Desde 2017, a União Europeia requer das empresas declarações sobre ações de proteção ambiental, responsabilidade social, interação com colaboradores, respeito aos direitos humanos e combate à corrupção.
A Bolsa de Valores de Nova York recolheu, em 2018, um conjunto de informações de nada menos que 85% das companhias listadas no índice S&P 500.
Aqueles dados são os antecedentes do que relatamos hoje como princípios ESG.
Participante das últimas dez edições do Fórum Econômico Mundial, em Davos, constato ano a ano a crescente atenção dedicada pelos CEOs das maiores companhias privadas do mundo a esse formidável conjunto de conceitos.
Atento à opinião pública mundial, Davos foi o primeiro grupo de larga influência a perceber que a sensibilidade aos reclamos por sustentabilidade seria o novo norte dos negócios.
Hoje, a Geração Z está chegando ao mundo das finanças, dos negócios e dos investimentos.
Jovens com 25 anos influenciam cada vez mais o mundo sobre onde e como investir, quais alimentos e de que empresas devemos consumir e quais as opções menos agressivas ao meio ambiente e à ética para a compra de vestuário e uso de serviços.
É um novo direcionamento, cuja consequência é a mudança das métricas decisórias.
Os melhores resultados estão hoje correlacionados às boas práticas corporativas.
No Brasil, o compromisso com o ESG exige modelos desafiadores.
Somos o maior produtor e vendedor de alimentos do mundo, um dos grandes exportadores de minério, estamos presentes de modo relevante no mercado de óleo e gás, temos uma frota de milhões de veículos e produzimos muito lixo.
E, acima de tudo, temos milhões de hectares de florestas a proteger.
É importante que o Brasil reitere apoio e adesão ao Acordo de Paris, cujos termos representam o compromisso com o desmatamento até 2030.
Os problemas estão escancarados.
Há uma série de crimes cometidos entre queimadas e desmatamentos.
Foi muito bem-vindo, portanto, o recém-organizado Conselho Nacional da Amazônia, formado por governo federal e Estados da região, com o apoio de bancos, empresas e entidades de todo o País.
O objetivo é encontrar soluções estruturantes, como o incentivo à bioeconomia e a regularização fundiária, para proporcionar acesso a crédito.
Dados da Embrapa mostram que cerca de 60% do território nacional são de mata nativa.
Segundo entidades do setor, cerca de 70% da energia produzida no Brasil vem de fontes renováveis, contra a média mundial de 23%.
Olhado pelo estoque, o Brasil segue sendo verde.
Olhado por nossas intenções e políticas, é preciso mostrar ao mundo que também somos verdes.
É um compromisso civilizatório.
Gratidão ao jornalista Washington Novaes, pioneiro na defesa do desenvolvimento sustentável no Brasil.
Texto publicado originalmente em O Estado de S. Paulo (31/08/2020).
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