As dores da conquista

O segredo é saber diferenciá-las do sofrimento. Leia minha última coluna publicada na revista Veja.

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A dor é o denominador comum a todo tipo de sucesso.

Sem aquele esforço extra que a provoca, pouco ou nada se conquista.

Pode reparar: sem muito trabalho não se obtêm resultados excelentes — uma regra de ouro que vale para atletas profissionais e amadores, concertistas, chefs, executivos, empresários ou qualquer pessoa que se imponha um desafio.

Não importam o tamanho e a natureza do obstáculo a ser contornado.

Pode ser a complexidade da burocracia para dar início a um novo empreendimento, a disposição de acordar mais cedo, a determinação de emagrecer.

Em qualquer caso, a labuta resulta em superação, em excelência, em aperfeiçoamento.

Ah, Lucilia, então vai dizer que é bom sentir dor?

Claro que não.

Como diz Shakespeare numa comédia, “todo mundo é capaz de dominar uma dor, com exceção de quem a sente”.

Mas a questão não é se é bom ou ruim sentir dor.

A questão é: se a dor é inevitável para progredir na vida, então como lidar com ela?

Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que toda dor sempre é localizada.

Ela emana a partir de um determinado ponto de nosso organismo.

O cérebro é que se encarrega de transmitir a sensação da dor generalizada, como se uma torção no tornozelo, por exemplo, tivesse reflexo no corpo inteiro.

Aprendi isso por experiência própria.

Anos atrás, depois que emagreci — perdendo metade dos 120 quilos que cheguei a pesar —, estava feliz da vida, sentindo-me estimulada a me exercitar todos os dias, e é provável que, em momento de maior animação, eu tenha passado do ponto.

Resultado: fiz uma tremenda hérnia na coluna cervical.

Até hoje meu pescoço dói muito.

Esse episódio me deu oportunidade de perceber que a dor, por mais aguda, está restrita a um lugar — e nós não somos apenas esse lugar.

A dor é no meu pescoço, mas eu não sou o meu pescoço.

Não deixo que o restante do meu corpo se contamine por aquela dor pontual.

Não nego que ela exista, mas não lhe dou atenção excessiva e convivo com ela — nós nos entendemos muito bem, obrigada.

O segredo para suportar uma dor qualquer é estabelecer a diferença que ela guarda com o sofrimento.

Dor é algo concreto, aquela sensação desagradável produzida pela excitação de terminações nervosas sensíveis ou por lesões de algum tecido do organismo.

Já o sofrimento tem a ver com a expectativa da dor futura ou a lembrança da dor passada.

Ela existe, sim, mas na nossa imaginação.

Assim, se é fruto de um processo mental, pode ser amplificado ou aliviado, dependendo de nossa atitude.

Até certo ponto, temos controle sobre isso.

O corpo humano parece ter sido projetado para aguentar trancos de diversas intensidades.

Basta, para tanto, preparar o espírito para enfrentá-los.

Quando as estruturas mentais estão voltadas para a obtenção de determinado resultado, o corpo reage segundo esse comando, impedindo que a dor embace o êxito final.

Qualquer dor é chata, claro, e não quis aqui dourar a pílula.

Mas ganhamos quando conseguimos colocá-la em seu devido lugar — o lugar onde ela deveria ficar circunscrita.

Não é impossível.

Para ajudar, pense nela como aquele ingrediente amargo sem o qual não calibramos a doçura de um coquetel.

Publicado originalmente na revista Veja.

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