Diplomacia do garfo e faca

Das conversas mais despretensiosas às mais sérias, ao redor da mesa muitas decisões são tomadas. Quando pensamos no relacionamento entre as nações, a gastronomia tem muito a acrescentar.

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Em todos os filmes históricos, vemos que é nas cenas dos banquetes que os dignatários se reúnem e chegam a acordos.

Não antes sem degustar pratos feitos pelos melhores cozinheiros, com as iguarias mais apreciadas, feitas com os ingredientes mais raros e valiosos.

Com o fim dos reinos e o surgimento dos países, a diplomacia aproximou-se da culinária com um claro objetivo.

O movimento começou a sofisticar-se com o chanceler de Napoleão, Charles-Maurice de Tayllerand.

Sua ordem era impressionar os estrangeiros, recebê-los de maneira brilhante, provocando-lhes o desejo, o orgulho e a honra de sentar à mesa da França.

Para cumprir a tarefa, convocou o então jovem e desconhecido cozinheiro Antonin Carême, que veio a tornar-se o primeiro chef-celebridade do mundo.

A partir daí, a diplomacia do garfo e faca tem se tornado cada vez mais importante – e influente.

No Brasil, o interesse pela utilização deste elemento é mais recente.

Após o longo período militar, em que a sofisticação e sutilizas perderam importância, a mesa voltou a contar como elemento diplomático no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Inicialmente, começou a convidar chefs de sucesso para cuidar dos jantares a chefes de Estado, como Claude Troisgros, Emanuel Bassoleil e Luciano Boseggia.

Até contratar em definitivo a iniciante Roberta Sudbrack, com a missão de transformar jantares enfadonhos em experiências memoráveis.

O foco passou a ser a culinária nacional com toques de sofisticação.

Em seus dois mandatos, foram mais de 60 banquetes inesquecíveis, para líderes como Bill Clinton e Tony Blair.

Até a chegada de Lula ao poder, onde o novo presidente demitiu chefs estrelados para adotar refeições em esquema de buffet, onde podia promover conversas mais informais.

Como resultado desta mudança, tivemos a abertura de inúmeras embaixadas brasileiras em países periféricos, e a aproximação com Cuba e Irã.

Após anos de feijoada e churrasco, Dilma Roussef restaurou o serviço à francesa, com locais marcados na mesa e cardápios com refeições completas.

Mas os convidados já não se impressionam, e o Brasil perdeu não apenas sua importância no cenário global, mas também bastante de seu charme.

Não é de se admirar que o símbolo dos incomodados com o atual rumo do governo sejam as panelas.

Para entender mais sobre o assunto, recomendo a leitura do livro A Mesa e a Diplomacia: o Pão e o Vinho da Concórdia, do enófilo e especialista em gastronomia Carlos Cabral.

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