Utopia no prato

A Dieta Planetária promete salvar o mundo e alimentar 10 bilhões de pessoas. Mas estudo revela que a ideia, ainda que boa e necessária, segue sendo utopia.

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2019 começou com um alerta e um caminho apontado.

No ritmo atual, os recursos do planeta se esgotarão sem conseguir saciar a população global.

Para evitar o colapso, seria necessário mudar a dieta de cada pessoa.

Esta foi a solução apontada pela Comissão EAT-Lancet, uma equipe de 37 cientistas de 16 países.

O menu ideal foi chamado de Dieta Planetária.

Suas recomendações incluíam limitar o consumo de carne.

E aumentar em alimentos de baixo impacto ambiental, como feijão.

Seria ótimo, mas a meta é inalcançável.

E não por má vontade do povo.

Um novo estudo revela que a dieta recomendada é simplesmente inacessível.

Não poderiam pagar por ela cerca de 1,58 bilhão de pessoas.

Principalmente na África subsaariana e no sul da Ásia.

A pesquisa é da Universidade Tufts e do Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares.

Para chegar aos números, foram cruzados a renda local com os preços de 744 alimentos em 159 países.

O modelo adotado foi o da dieta de menor custo, em conformidade com as recomendações feitas no relatório.

Como resultado, descobriu-se que seguir a dieta EAT-Lancet custaria uma média de 2,84 dólares por dia.

O que é cerca de 60% mais caro do que uma dieta que atende aos requisitos nutricionais mínimos.

Principalmente porque inclui carnes e laticínios, produtos de alto valor nutricional, é claro.

Porém, também de alto custo.

Então, o que será necessário para tornar essa dieta mais acessível?

Isso exigiria uma nova conjuntura econômica.

Obviamente, maior renda e menor custo com alimentos é apenas uma etapa do processo.

Entretanto, uma vez que as pessoas tenham dinheiro suficiente para comprar alimentos recomendados, não há garantia de que o farão.

Será preciso voltar às pranchetas.

Governos devem se envolver na produção e distribuição de alimentos.

As redes de segurança social existentes devem ser repensadas para oferecer melhor cobertura.

E a matriz alimentar deve mudar.

No passado, a humanidade envolveu-se na “revolução verde”, nos anos 1960.

Ela surgiu para aumentar a produção agrícola através de desenvolvimento de pesquisas em sementes, fertilização e utilização de maquinário.

Agora, se queremos sustentar 10 bilhões de pessoas, temos que investir em outros grupos de alimentos.

Ninguém realmente esperava que a Comissão EAT-Lancet ditasse as compras de todas as pessoas.

O relatório é mais um ponto de partida para uma discussão.

E, dado o debate que gera quase um ano após o lançamento, parece ter sido bem-sucedido.

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