A dieta da distração

Envolver-se intensamente em alguma atividade afasta o pensamento da comida. Leia minha última coluna publicada na revista Veja.

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O sucesso de uma dieta tem mais a ver com os comandos do cérebro do que com as exigências do estômago.

Estou me referindo àquela fomezinha marota, que é menos vontade de comer do que de mastigar.

É nessa hora que beliscamos qualquer bobagem só porque o cérebro, momentaneamente desocupado, inventa uma necessidade.

Pode reparar: quando estamos envolvidos de forma intensa em alguma atividade, com frequência “esquecemos” de pensar em comida.

Um palestrante no palco está tão focado em articular seu raciocínio que seus neurônios não aceitam nenhuma outra demanda, como imaginar um macio bolinho de fubá.

Um executivo, da mesma maneira, não tem vontade de degustar um pão de queijo recém-saído do forno em meio a uma reunião tensa.

Até um mero espectador dá preferência a comer pipoca no início do do filme, quando a trama ainda não decolou.

Se estivéssemos sempre ocupados, o cérebro não representaria um peso na luta contra a balança.

Ninguém, no entanto, por mais comprometido com o trabalho ou dedicado a seus próprios afazeres, permanece o tempo todo focado.

É da natureza humana alternar períodos de concentração e relaxamento, como se reproduzíssemos no cotidiano os movimentos de sístole e diástole do coração.

Pois é exatamente quando estamos com a guarda baixa que o cérebro, como quem não quer nada, encontra espaço entre uma sinapse e outra e começa a pensar naquele lanchinho tão apetitoso quanto desnecessário.

E assim, mesmo sem fome, acabamos nos rendendo à tentação de ingerir calorias evitáveis.

Uma maneira de escapar dessa armadilha é enganar o cérebro.

O órgão é responsável por nossa inteligência, mas não é por isso que não podemos ser mais espertos do que ele.

Fisioterapeutas, por exemplo, sabem que, ao aplicar gelo numa região dolorida do corpo, o cérebro vai entender que aquela parte do organismo estaria morrendo e que, portanto, precisaria de mais sangue para tentar reverter o quadro.

Enganado pelo artifício, o cérebro irriga a área, aliviando o estresse físico.

Pois o mesmo princípio pode ser usado em dietas.

Quando a mente estiver perigosamente à toa, é sensato ocupá-la logo, ou pelo menos distraí-la.

O poder da distração, como meio de combate ao tédio eventual ou à súbita ansiedade, não deve ser subestimado.

Em nome da dieta, cada um deveria ter à mão um arsenal de atividades triviais, que pudesse ser usado assim que o cérebro falasse mais alto que o estômago.

Vale tudo.

Uma volta no quarteirão em ritmo de caminhada vigorosa.

Um papo pelo celular para colocar a conversa em dia com um amigo.

Uma leitura daquelas que nos pegam na primeira frase e não soltam mais.

Jogos também se prestam ao papel.

Entre uma atividade e outra, eu gosto de acessar o aplicativo Termo, que oferece um passatempo na fronteira entre a antiga palavra-cruzada e a mais antiga ainda forca.

Despretensioso, o jogo requer raciocínio lógico e razoável repertório linguístico, além de um pouco de sorte.

O fato é que tem a capacidade de nos manter absortos pelo tempo necessário para, depois do almoço, não lembrarmos da existência do brioche com geleia.

O distraído, lembre-se, está apenas concentrado em outra coisa.

Publicado originalmente na revista Veja.

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