Banquetes reais

Os hábitos das longevas monarquias à mesa. Leia meu artigo publicado na revista Veja.

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A família real britânica exerce fascínio sobre muita gente.

Parte do deslumbramento se deve à nostalgia de um tempo mágico povoado por reis e rainhas – fruto muito mais da nossa imaginação, temperada pelos contos de fada, do que dos fatos históricos.

Há também uma curiosidade natural pelo desconhecido.

Queremos entender a rotina e a etiqueta da realeza, o vai-e-vem de empregados nos palácios.

É uma maneira de tocar o inatingível.

O cerimonial dos banquetes, recepções, festas, casamentos e jantares é pensado para refletir o poder da monarquia.

Sendo um poder simbólico, baseado nas boas relações com celebridades e chefes de Estado, cada detalhe conta.

É considerada uma afronta, por exemplo, continuar a comer após a rainha terminar sua refeição.

Quando a monarca está satisfeita, os comensais devem repousar seus talheres e aguardar que a mesa seja desfeita.

A regra existe há séculos e já atormentou muita gente: conta-se que, no século XIX, a rainha Vitória devorava a comida, deixando pouco tempo para os convidados saborearem suas refeições.

Para a alegria da corte, a atual monarca, Elizabeth II, não parece afeita a esse tipo de comportamento exagerado.

Seu cozinheiro oficial, Darren McGrady, disse certa vez que a rainha “come para viver”.

Suas refeições típicas são frango ou peixe grelhado, legumes, muita salada e frutas frescas – sempre em pequenas porções, quatro vezes ao dia.

O cardápio dos jantares oficiais é mais elástico, claro, mas Elizabeth II faz questão de que nada tenha muito alho ou cebola.

Mariscos e frutos do mar também são vetados, mas por outro motivo: risco de intoxicação.

Em nome da segurança nacional, a rainha e os sucessores do trono são proibidos de saborear tais iguarias – embora o príncipe Charles já tenha sido flagrado vez ou outra quebrando a regra.

Nas viagens ao exterior, os herdeiros também são orientados a recusar carne crua e água não engarrafada – afinal, basta um desarranjo alimentar para derrubar toda uma agenda de compromissos públicos.

É digno de nota como a família real britânica inverteu o sinal das festas da realeza.

Ao longo da história, tais eventos foram encarados como símbolos de opulência e de descaso perante as dificuldades enfrentadas pelo povo.

Na corte de Elizabeth II, no entanto, as recepções se transformaram em atração turística.

Milhares de pessoas já apareceram no palácio de Buckingham para ver uniformes, mobília, prataria, garrafas de vinho e vários outros itens em exposição.

O fascínio por esses eventos é tamanho que até pedaços de bolo de casamentos reais já foram a leilão.

Parece estranho, mas há uma explicação: esses bolos, feitos com nozes e frutas secas, não estragam como um bolo comum – pelo contrário, ficam até mais saborosos após alguns anos de maturação.

Isso deu origem à tradição de servir o bolo de um casamento real nas festas de batizado de cada herdeiro.

O bolo das núpcias de William e Kate, que data de 2011, foi servido novamente nos sacramentos de George (2013), Charlotte (2015) e Louis, em 2018 – sete anos depois de ter saído do forno!

E uma bela (e, dizem, deliciosa) alegoria da longevidade da monarquia.

Publicado originalmente na revista Veja.

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