Alimento para a alma

Difícil prever o futuro? Invista em sabores saudáveis associados a bons sentimentos. Leia minha última coluna publicada na revista Veja.

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Todos os dias, o aroma que vem da cozinha sempre acorda toda a casa.

Mas imagine acordar, levantar, vestir-se, sentar à mesa e… não ter café.

Nem hoje, nem amanhã, nem por muito tempo.

O cenário de filme apocalíptico para muitos se aproxima da realidade – e mais rápido do que se imagina.

No caso do café, a queda da safra e a inflação levaram os consumidores gourmet a buscar as marcas mais populares, o que tem levado ao desabastecimento do produto em alguns lugares.

Como característica de nossos tempos, é desta forma que a demanda crescente por produtos mais em conta tem mudado a mesa de todos.

O aquecimento global afeta o excesso de chuvas (ou a falta delas) nas regiões produtoras.

Passamos a depender cada vez mais do clima para saber o cardápio dos dias que virão.

E a pandemia, como sabemos, tratou de acelerar muitos prognósticos que já se desenhavam no horizonte na forma como comemos ou bebemos.

Agora, não basta “querer e poder”: para saciar qualquer desejo alimentar, é preciso combinar o imperativo humano com a disponibilidade.

Se faltam ingredientes, podemos aprender com a experiência de tempos de escassez.

Sendo assim, a saída pode estar numa viagem gastronômica de volta ao passado.

Não acredito ser coincidência haver tantos programas culinários com ênfase na brasa.

E nem exclusividade brasileira.

Hoje, é global a tendência de valorizar as receitas mais simples e os métodos de preparo do passado.

Nas redes sociais, por exemplo, estão em alta algumas receitas de bolo da época da Grande Depressão, iniciada em 1929.

Com mais de 15 milhões de visualizações, por exemplo, há um bolo de chocolate com batata dos anos 1930 que não usa leite.

Também é grande o sucesso da “torta de água”, feita apenas com açúcar, farinha, água e manteiga.

No Tik Tok, a hashtag #greatdepressionrecipes apresenta estas e muitas outras dicas que esbanjam criatividade na supressão ou substituição de ingredientes.

Mais que salvar o bolso, este passo atrás diante do fogão é um movimento de sobrevivência, que envolve a saúde não só física como mental.

Afinal, os sabores retrô nos levam para épocas mais felizes.

É como se o prato fosse uma máquina do tempo.

Em 2021, a cada 10 receitas pesquisadas, oito eram de doces tradicionais do tempo das avós.

É natural buscar a paz nas reminiscências gustativas, em comidas associadas a sentimentos de conforto.

Assim, para fugir do estresse no trabalho e evitar conflitos com a família confinada, um pudim com furinhos no meio, aquele do mais simples e tradicional possível, é infalível.

Publicado originalmente na revista Veja.

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